por Thais Herédia |
O emaranhado de “xizes” do império de Eike Batista sempre foi complexo. Criando empresas de vários setores – todas com um X no meio – o mineiro (e não carioca) que sonhava ser o homem mais rico do mundo acabou se perdendo no próprio labirinto. E está levando com ele uma horda de investidores nacionais, estrangeiros, bancos, empresas parceiras e sabe-se lá quem mais.
Analistas e especialistas no mundo todo se desdobram para entender onde tudo começou e, principalmente, onde tudo vai parar. O tamanho da conta só Eike Batista conhece. Na complexidade das operações do grupo, ficou quase impossível descobrir quanto ele deve para quem. Seria importante saber disso para entender qual a extensão do risco de falência que as empresas podem causar.
Um grande banco de investimentos estrangeiro soltou um relatório indicando que cinco bancos brasileiros têm a maior exposição ao “risco-X” – BNDES, Caixa Econômica Federal, Itaú, Bradesco e BTG Pactual. Ninguém negou ou confirmou esses cálculos.
O grupo de Eike é muito grande para quebrar?
“Eu já me perguntei isso. Hoje eu penso que ele é muito grande para ser salvo”, disse ao G1 um analista de mercado de ações no Brasil, bastante ativo no estabelecimento de padrões de governança corporativa nas empresas nacionais.
“Claro que há o prejuízo dos investidores. Mas esse risco faz parte do mercado de ações. Mas há um grande prejuízo à imagem de empreendedorismo no Brasil. O Eike quebrou pelos próprios erros e pelo risco natural do processo. Um dos erros, que considero o número 1 da governança corporativa, é se cercar de pessoas que não discordam de você”, disse o analista.
Eike Batista ficou sim conhecido como empreendedor mas também por suas excentricidades. Quem já foi visitá-lo em seu escritório no Rio de Janeiro conta que as reuniões sempre tinham mais um participante – Eric, o pastor alemão do empresário que, segundo as más línguas, só “fala” alemão. Deve ser um tanto intimidador discordar de qualquer coisa com um cão de guarda desses por perto.
Esquisitices à parte, há muita gente distante do mundo empresarial, mas que resolveu se arriscar e investir na bolsa de valores. Comprar ações sempre embute risco, mas há mecanismos para acompanhar a evolução dos negócios. No caso do grupo de Eike Batista, como em tudo que o envolve, esse quadro é bem mais complexo.
“Tem acionista minoritário em todas as instâncias dos negócios. Nas empresas de capital aberto (com ações em bolsa) ou não. Todas têm minoritários e na holding comandada pelo Eike também. Comprar uma ação com preço lá em cima e perder o dinheiro porque o projeto não deu certo, é inerente ao mercado. Ele vendeu resultados futuros possíveis dando como garantia as próprias ações das empresas. Quando viram que os resultados futuros não vieram e nem virão, começou a enxurrada de venda das ações”, avalia um grande operador de ações do mercado financeiro.
Há mais perdedores nesse processo. Ao encerrar seus negócios, todos ou a maioria deles, Eike Batista interrompe investimentos em áreas fundamentais ao país – como energia e petróleo. Num momento em que o humor com o Brasil não anda bem, essa dose a mais de desconfiança também vai mandar sua conta.